Shangri-la

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Os Putos

Posted by Picasa Lhassa
Uma bola de pano num charco
Um sorriso traquina, um chuto
Na ladeira a correr, um arco
E o céu no olhar, de um puto
Uma fisga que atira a esperança
Um pardal de calções astuto
E a força de ser criança
Contra a força de um "chui" que é bruto

Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo dos pais
É a ternura que volta
E ouvem-no falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.

As caricas brilhando na mão
A vontade que salta ao eixo
E um puto que diz que não
Se a "porrada" vier não deixo

Um berlinde abafado na escola
Um pião na algibeira sem cor
E um puto que pede esmola
Porque a fome lhe abafa a dor
Ary dos Santos

Posted by Sílvia Ornelas | 4:52 da tarde |

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Posted by Sílvia Ornelas | 4:49 da tarde |

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Posted by Sílvia Ornelas | 4:46 da tarde |

terça-feira, dezembro 06, 2005

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Posted by Sílvia Ornelas | 1:50 da manhã |

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Guardar

Posted by Picasa Betty
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la
Por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela,
isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
Por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Pode guardar-se o que se quer guardar
António Cicero

Posted by Sílvia Ornelas | 11:36 da tarde |

sábado, novembro 05, 2005

Sossega, coração! Não desesperes!

Posted by Picasa Lhassa
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Fernando Pessoa

Posted by Sílvia Ornelas | 7:08 da tarde |

sexta-feira, outubro 28, 2005

Silêncio

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Assim
pouco a pouco
escolhi o presente silêncio
Silêncio tão pouco querido
oh, derradeiro momento...
Silêncio
Momento
Silêncio
Pedro Ayres de Magalhães

Posted by Sílvia Ornelas | 12:15 da manhã |

Aqui

Posted by Picasa Lhassa
Aqui, desposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem,
No interior das coisas canto nua
...
Aqui livre sou - eco da lua
E dos jardins dos gestos recebidos,
E o tumulto dos gestos pressentidos,
Aqui sou eu em tudo quanto amei.
...
Não por aquilo que só atravessei,
Não p´lo meu rumor que só perdi,
Não p´los incertos actos que vivi,
...
Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei.
Sophia de Mello Breyner

Posted by Sílvia Ornelas | 12:07 da manhã |

segunda-feira, outubro 24, 2005

XXV

Posted by Picasa Lhassa
Quantos em ti lagos e rios
Quantos em ti os oceanos
Água vermelha que aos ouvidos
traz o aviso
de nenhuns campos
É bom sondarmos os abismos
que nunca vão cicatrizando
E ao som da água pressentirmos
de onde provimos
aonde vamos.
David Mourão Ferreira

Posted by Sílvia Ornelas | 11:23 da tarde |

sexta-feira, outubro 21, 2005

Este é o tempo

Posted by Picasa Lhassa
Este é o tempo
Este é o tempo
Da selva mais obscura
Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura
Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura
Este é o tempo em que
os homens renunciam.
Sophia de Mello Breyner

Posted by Sílvia Ornelas | 3:08 da manhã |

Os troncos das árvores

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Os troncos das árvores doem-me como se fossem os meus ombros
Doem-me as ondas do mar como gargantas de cristal
Dói-me o luar como um pano branco que se rasga.
Sophia de Mello Breyner Andresen

Posted by Sílvia Ornelas | 1:36 da manhã |

quinta-feira, outubro 20, 2005

Noites que descansavam nas minhas palavras

Posted by Picasa Lhassa
Haviam noites que descansavam nas minhas palavras
enquanto eu dormia. Ouviam-me a vontade de
acordar pouco. Seguravam-me as pálpebras e ,
hoje sei que era para meu bem. Acho detestável
ter que acordar todos os dias , pouco que seja.
Continua a apetecer-me gritar nas paredes
que não acordo , mas cada vez mais
menos sei o que dizer:
E da noite se fez dia, dos dias nasceu a noite.
Tal como com o ovo e a galinha também a mim
se coloca frequentemente uma dúvida ,
em noites que descansavam nas minhas palavras ,
e essa dúvida era a de acordar , pouco que fosse.
Nuno Travanca

Posted by Sílvia Ornelas | 9:01 da tarde |

Um dia branco

Posted by Picasa Lhassa
Dai-me um dia branco, um mar de beladona
Um movimento
Inteiro, unido, adormecido
Como um só momento.
Eu quero caminhar como quem dorme
Entre países sem nome que flutuam.
Imagens tão mudas
Que ao olhá-las me pareça
Que fechei os olhos.
Um dia em que se possa não saber.
Sophia de Mello Breyner Andresen

Posted by Sílvia Ornelas | 8:58 da tarde |

Há um dia em que indeléveis

Posted by Picasa Lhassa
Há um dia em que indeléveis
nos levantamos
com um copo de água vazio da noite.
Caminhamos até a uma torneira amiga
e enchemos novamente o copo.
Enquanto se verte a água que sobeja
pensamos no jogo do pião,
nas trocas nas maternidade
se na vontade que temos em nascer
todos os dias.É a primeira água da manhã
que nos engravida os sentidos.
Depois , apenas a mercearia persiste
e é assaltada muitas vezes por ano ,
tal como a nossa juventude.
Nuno Travanca

Posted by Sílvia Ornelas | 7:00 da tarde |

Deixarei os jardins a brilhar com seus olhos

Posted by Picasa Lhassa
Deixarei os jardins a brilhar com seus olhos
detidos: hei-de partir quando as flores chegarem
à sua imagem. Este verão concentrado
em cada espelho. O próprio
movimento o entenebrece. Mas chamejam os lábios
dos animais. Deixarei as constelações panorâmicas destes dias
internos.Vou morrer assim, arfando
entre o mar fotográfico
e côncavo
e as paredes com as pérolas afundadas.
E a lua desencadeia nas grutaso sangue que se agrava.
Herberto Helder

Posted by Sílvia Ornelas | 4:36 da tarde |

A Invisibilidade de Deus

Posted by Picasa Lhassa
Dizem que em sua boca se realiza a flor
outros afirmam:
a sua invisibilidade é aparente
mas nunca toquei deus nesta escama de peixe
onde podemos compreender todos os oceanos
nunca tive a visão de sua bondosa mão
o certo
é que por vezes morremos magros até ao osso
sem amparo e sem deusa
penas um rosto muito belo surge etéreo
na vasta insónia que nos isolou do mundo
e sorri
dizendo que nos amou algumas vezes
mas não é o rosto de deus
nem o teu nem aquele outro
que durante anos permaneceu ausente
e o tempo revelou não ser o meu
Al-Berto

Posted by Sílvia Ornelas | 11:56 da manhã |

Um homem de veludo

Posted by PicasaLhassa
Um homem de veludo
atravessa a estrada.
Com ele leva a leveza do ser,
sustenta-a, com dificuldade.
Pára, sucedendo-lhe a brandura,
o costume de parar,
seguido do ímpeto de continuar.
Sorri ao passeio,
ao calcário, ao ornamento.
O homem de veludo
necessita de se encontrar.
Regressa à estrada,
deita-se cuidadosamente n
uma faixa branca,
criteriosamente escolhida p
ara descansar.
O homem de veludo
quer descansar.
A travessia é amorfa,
demorada, silente.
Ao deitar-se cruza os braços,
fecha os olhos,
e sente o cheiro das madeiras.
O homem de veludo
é agora tolhido de movimento,
caem-lhe lágrimas
familiares no rosto,
e não pode fazer nada.
Nuno Travanca

Posted by Sílvia Ornelas | 11:55 da manhã |

Duas sombras orientais enfezadas

Posted by Picasa Lhassa
Duas sombras orientais enfezadas
se diluem no tempo breve do reencontro
e sem silêncio
comunicam ofegantes a
anacronia das vestes perdidas.
Num amplexo se constituem
em forma unívoca e terminal.
Sucumbe o suor, a agitação,
a dialéctica do momento.
De repente ouvem-se as luzes
e o tilintar da matéria.
Ela bate com a porta
e ecoa já no corredor:
“Até amanhã, senhor doutor”.
Nuno Travanca

Posted by Sílvia Ornelas | 11:50 da manhã |

Nasce-se onde a morte nos espera

Posted by Picasa Lhassa
Pudessem as crianças nascer de novo neste
caminho. As poeiras já assentam, eu passo e nada
se move. Nem o vento; só o silêncio
enquanto ao longe se trocam os comboios.
Sérgio Xarepe

Posted by Sílvia Ornelas | 11:49 da manhã |

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Posted by Sílvia Ornelas | 11:48 da manhã |

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Posted by Sílvia Ornelas | 11:47 da manhã |

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Posted by Sílvia Ornelas | 11:46 da manhã |

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Posted by Sílvia Ornelas | 11:46 da manhã |

O Homem é por desgraça uma solidão...

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"O Homem é, por desgraça, uma solidão:
Nascemos sós, vivemos sós e morremos sós."
Miguel Torga

Posted by Sílvia Ornelas | 11:44 da manhã |

Deixem-me

Posted by Picasa Lhassa
Deixem-me.
Não me aborreçam.
Deixem-me ser só
Não me chateiem
com a merda da
luz divina.
Deixem-me caminhar
pela estrada sozinha.
xangri_lah

Posted by Sílvia Ornelas | 11:44 da manhã |



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